Cultura e Arte no Campus: Conheça o artista por trás do símbolo do SELCA.
Cultura e Arte no Campus: Conheça o artista por trás do símbolo do SELCA.
Quem frequenta o SELCA, Setor de Esportes, Lazer, Cultura e Artes certamente já se acostumou a contemplar o grafite que cobre uma enorme parede logo ao lado da portaria. O que poucos sabem é que a obra veio ao mundo pelas mãos de um estudante do Campus Muzambinho, e que há muito mais por trás daqueles traços do que se pode imaginar.
João Otávio Garcia Costa é quem assina a obra que já se tornou símbolo do SELCA. Aos 26 anos, ele está cursando o último período do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, e alimenta sua paixão por manifestações artísticas diversas, como a ilustração, a arte drag, a atuação e as Histórias em Quadrinhos (HQ).
Ouviu falar do IFSULDEMINAS pela primeira vez através de uma professora do Ensino Médio, que afirmou que seu perfil era bastante próximo da área de biológicas.O conselho foi acatado pelo jovem, que afirma que esta decisão impactou sua visão de mundo.
“Vir para cá para estudar e morar sozinho foi uma experiência com potencial transformador muito grande, não só profissionalmente, mas em questões ainda maiores da minha vida. Serviu como uma ponte para que eu conhecesse muitos tipos de realidade, e esse é o conteúdo que minha arte carrega hoje” - comentou.
Para João, essas experiências compõem sua base artística.
“Quando falo nessas realidades, falo de culturas, visões de mundo, perspectivas, movimentos políticos e inúmeras outras coisas. Foi vivendo essa experiência que me encontrei em várias formas de arte, como a arte drag e o grafite. Eu citei essas duas porque elas têm em comum uma coisa muito relevante: marginalidade. A gente tem que se esforçar muito para que sejam reconhecidas como arte. O que eu tive nesse trabalho foi a possibilidade de contribuir com esse reconhecimento.” - refletiu o artista.
Este interesse pela arte aproximou o jovem do SELCA (Setor de Esportes, Lazer, Cultura e Artes) com o qual contribuiu em diversas ocasiões, como a organização das Quintas Culturais e outros eventos de natureza similar. Ali, João atuou como voluntário, e acumulou diversas experiências que permitiram que tivesse um olhar mais aprofundado sobre o ambiente e a diversidade da instituição.
O jovem compartilhou com a equipe e com a Coordenadora Geral de Assistência ao Educando, Clélia Mara Tardelli, sua intenção de realizar ali uma intervenção artística que representasse toda aquela experiência adquirida, contribuindo assim com a percepção das pessoas sobre o trabalho realizado pelo setor.
A proposta vinha ao encontro dos anseios da equipe, que tem como uma de suas políticas o incentivo à arte e cultura.
Dessa forma, João recorreu à técnica do grafite para criar uma obra que viria a ser não apenas um símbolo do setor, como também um manifesto de respeito à cultura e diversidade. De acordo com o artista, um dos temas mais presentes na obra é o enaltecimento de culturas pretas e periféricas.
“Para isso, coloquei ali elementos do vogue, da cultura ballroom, da cultura iorubá e do RAP; culturas que ainda são muito violentadas. Trazer um olhar de valorização para isso em um espaço frequentado por tantas pessoas é crucial. No mesmo cenário, representei elementos de outras culturas locais, como a viola caipira, o futebol e o baralho, capturando a identificação de mais alunos para sensibilizá-los sobre essa mensagem” - contou João - “Essa foi só a mensagem principal, mas ainda tem muita informação e eastereggs(*) escondidos ali”.
Quando questionado, em tom de brincadeira, sobre esses EasterEaggs, João riu e lançou o desafio:
“Esses funcionam melhor quando as pessoas descobrem sozinhas!” - comentou.
A coordenadora Clélia Mara Tardelli, que acompanhou todo o processo, compreende que a obra de arte foi bastante assertiva naquilo a que se propôs.
“Dá pra perceber ali vários tipos de corpos e cores, então a obra contribui para essa visão acerca da diversidade. Ao contemplar o trabalho do João, podemos inclusive trabalhar vários temas relacionados à diversidade sob o aspecto pedagógico, como a homofobia, a gordofobia e vários outros assuntos que, por ainda existir o preconceito, colocam as pessoas às margens da sociedade. Apenas por possibilitar esse olhar e reflexão, a obra já contribui para a formação cidadã, que é uma preocupação constante da Instituição” - Finalizou.
Por fim, ao nos aproximarmos do encerramento de nossa entrevista, questionamos o estudante João Otávio sobre uma eventual carreira artística.
“Pretendo continuar ampliando minhas possibilidades dentro da arte, que é um sonho que eu sempre tive. O que vai acontecer eu não sei, mas sempre vou estar cada vez mais próximo disso! E sempre que voltar a me apropriar do hip hop, que é uma ferramenta de luta de um povo, minha missão tem que ser garantir que ele continue cumprindo esse propósito.” - finalizou.
Texto e fotos: ASCOM do Campus Muzambinho
(*)NOTA: Easter eaggs são elementos escondidos, ou elementos surpresa, muito utilizados na cultura pop. São muito comuns em filmes, séries e jogos, e costumam trazer referências a outros elementos culturais.
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