Romário, o homem que atravessou o Brasil para atuar na implantação da Escola Agrotécnica
A Escola Agrotécnica de Muzambinho foi construída com o trabalho de muitas mãos e com pessoas de diversas partes do Brasil. Vamos voltar ao ano de 1929, na cidade de Picuí, na Paraíba, em 02 de junho, nascia Romário de Medeiros Nóbrega, filho de Maria Dulce de Medeiros Nóbrega e Severino Ramos Nóbrega. O jovem se mudou para Bananeiras para estudar no curso Técnico em Agropecuária. Lá ele conheceu o Dr. Nelson Dantas Maciel, Diretor da Escola, que ofereceu uma vaga de trabalho na Escola Agrotécnica que estava sendo construída. Inclusive, a passagem de Romário foi comprada pelo Dr. Nelson.
No ano de 1951, Romário vislumbrou uma oportunidade de crescimento profissional em terras mineiras. Ele viajou de avião e desembarcou na cidade de Guaxupé e, no dia 16 de julho tomou posse como mestre agrícola, na categoria de mensalista, na Escola Agrotécnica de Muzambinho. No hotel lhe deram apenas um cobertor fininho, custou a adormecer e acabou se atrasando. Ele relembra rindo que perdeu o horário do trem, pois desconhecia o frio da região.
Romário, mesmo jovem, já era bastante articulado e logo conseguiu uma carona com um mascate que comercializava seus produtos em Muzambinho. Ele ri e enfatiza que a carona não foi de graça, ele teve que pagar. Ao chegar na Escola Agrotécnica conheceu o Dr. Hercílio Vater Faria, ali começou uma amizade e Romário o ajudou em todas as demandas que eram necessárias, pois a Escola ainda estava em fase de construção. “Eu estava feliz, porque eu estava com o diretor, o Dr. Hercílio era o primeiro diretor daqui”.O Dr. Hercílio também foi o executor do acordo de construção deste educandário.
Romário não se lembra ao certo, mas em suas lembranças aponta que quando chegou a Muzambinho, a parte da mecanização já havia sido construída e logo foram iniciadas as obras do Prédio H. Ele, como técnico agrícola, atuava diretamente com o Engenheiro Agrônomo da Escola, conhecido como Toninho Cobra.
Uma das primeiras atividades desenvolvidas por Romário foi a implantação da horta da Escola. No início, a horta era localizada onde hoje fica o açude da canoagem, próxima a rodovia. Ali Romário empregou o aprendizado que trouxe na bagagem do curso de técnico agrícola, formou os canteiros, plantou as sementes e as mudas. Ele se recorda que plantou morangos e 14 tipos de verduras. Fato interessante é que Romário veio da Paraíba trazendo sementes, ou seja, já chegou em Minas Gerais com vontade de trabalhar, fazer a terra produzir e gerar fartura de alimentos para os funcionários que estavam trabalhando na construção da Escola.
O servidor aposentado relata que a tensão política que envolvia a cidade de Muzambinho era grande e parte dela era sentida dentro da própria Escola Agrotécnica. Ele explica que fazia parte da UDN - União Democrática Nacional, mesmo partido do Deputado Federal, o Dr. Lycurgo Leite Filho, político que batalhou para que a Escola fosse construída em Muzambinho. Os filiados da UDN eram denominados como Tucanos. A cidade também contava com o PSD - Partido Social Democrático, os filiados eram chamados de Pica-Paus, o partido foi contrário à instalação da Escola, eles defendiam a construção de um aeroclube.
E finalmente, após longos anos de construção, chegou a inauguração da Escola Agrotécnica, em 22 de novembro de 1953. Romário participou das festividades da inauguração e relembrou a vinda do Presidente da República, Getúlio Vargas e o fato dele ter permanecido por duas noites em Muzambinho. Contou também sobre o churrasco e que aconteceram outras atividades em virtude do momento de celebração.
Romário passou por uma situação arriscada, o hotel em que ele morava na cidade pegou fogo. “Eu saí descendo a escada com as fagulhas de fogo na mão”. O fato acarretou na vinda dele para morar na Escola, por aqui ficou cerca de um ano. Como era solteiro, ele ficou no alojamento com os alunos e com os olhos marejados relembrou o quanto todos foram amigos. Ele conviveu diariamente com a primeira turma de alunos do ano de 1953. Inclusive participava do time de futebol da Escola e ganhou diversos jogos.
Pouco tempo depois, ele casou-se com Glacy Rondineli Nóbrega, mudou-se novamente para a cidade e teve cinco filhos, Romário (servidor aposentado desta Instituição), Rovilson, Rômulo, Rogério (servidor desta Instituição) e Romero.
Os desfiles de 7 de setembro eram marcados pela presença da Escola Agrotécnica e Romário levava a família para prestigiar os atos cívicos que ocorriam na praça principal de Muzambinho. Ali assistiam os estudantes com seus trajes alinhados e as apresentações da fanfarra da Escola.
No decorrer de sua carreira, Romário tornou-se professor horista na Escola, tendo atuado nos dois cargos por um período, mestre agrícola e professor. No ano de 1963, Romário fez a opção de atuar apenas como docente na Instituição, uma vez que não era mais possível ocupar as duas funções, ele lecionou as disciplinas de Agricultura e Topografia.
O fato que também ficou registrado na memória do servidor aposentado e que envolve os seus filhos ocorreu na Mecanização. No setor havia um lavador de carros, conforme os filhos de Romário foram crescendo, eles passaram a frequentar as dependências da Escola para trazer o carro para lavar.
E chegou o momento em que Romário se tornaria professor do próprio filho. Rogério prestou a prova e veio estudar na Escola Agrotécnica, o fato ocorreu no primeiro ano em que a Instituição ofertou vagas para alunos em regime de semi-internato, o ano era 1975.
No dia da entrevista com Romário, o seu filho Rogério esteve presente e relatou dois fatos que vivenciou ao lado do pai. Rogério contou que estava inseguro com o trote que iria receber, ele ainda era bem jovem e os veteranos eram mais velhos. Mas Romário não o protegeu do trote, parou o carro próximo ao refeitório e os estudantes retiraram Rogério do carro e cortaram o seu cabelo.
Outro fato mencionado por ambos está relacionado aos apelidos que os estudantes recebiam. O professor Romário pronunciava potássio da seguinte forma: “potassa” e os estudantes apelidaram Rogério de “Potassinha” e até hoje algumas pessoas o chamam desta maneira. Romário brinca e diz que os apelidos não “pegavam”.
Enquanto atuou na Escola Agrotécnica, de 1951 a 1979, Romário presenciou a gestão de cinco diretores: Dr. Hercílio Vater Faria, Dr. Marcelo Diógenes Maia, Dr. Paulo de Azevedo Berutti, Dr. Darcy Rodrigues da Silva e Professor José Rossi. Em meio ao olhar marejado, Romário termina a entrevista em frente a fotografia da Usina Hidrelétrica adesiva no Prédio Administrativo. Ali ele aponta sua imagem, segurando no colo um dos filhos do Dr. Hercílio e saudoso de tantos momentos vividos no espaço que hoje é conhecido como IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho.
Texto e fotos: ASCOM - Campus Muzambinho
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