Carlos Esaú dos Santos, o homem que nasceu e cresceu junto com a escola.
Carlos Esaú dos Santos, o homem que nasceu e cresceu junto com a escola.
É com alegria que o egresso e servidor aposentado do Campus Muzambinho, Carlos Esaú dos Santos, compartilha conosco sua história dentro desta Instituição, que começou bem cedo, ainda bebê. Com um brilho no olhar e vívida nostalgia, o servidor anuncia a todos que esta escola floresceu em seu coração antes mesmo de ele se tornar nosso estudante, uma história que remonta ao dia da grande inauguração.
Naquele tempo, o pequeno Carlos, não mais que um bebê de dez meses, filho do Sr. José Esaú dos Santos e Dona Lucyria Goulart dos Santos, pôde presenciar de perto o nascimento da Escola Agrotécnica de Muzambinho. Foi do colo de sua mãe que viu surgir uma das instituições de maior renome do ensino agrotécnico, em um evento que contou com muitas atrações e a participação de grandes nomes de nossa história, como o então presidente Getúlio Vargas.
Pascoal Casagrande, seu tio, foi o motorista responsável pelo transporte das pessoas que viriam à instituição para participar do churrasco e inauguração; e foi ele quem trouxe o pequeno Carlos e a família na boleia do caminhão; Os demais Muzambinhenses, por sua vez, vieram na carroceria.
E qual não foi a surpresa de Dona Lucyria quando chegou à escola e se deparou com o Presidente Getúlio Vargas trajando um distinto terno marrom, exatamente no mesmo tom que ela havia vestido o pequeno Carlos?
Ao refletir sobre o propósito do colégio agrícola, o servidor aposentado nos diz que este veio para promover a inclusão dos filhos de Produtores Rurais, sem nunca deixar de lado a comunhão com a cidade, sempre presente em cada passo de nossa história.
“A escola sempre esteve aberta para a comunidade! Não só de Muzambinho, mas também das cidades circunvizinhas” - lembrou Carlos.
O servidor conta que "a cachoeira, que era chamada “Cachoeira da Escola” e a hidrelétrica onde se construiu um parapeito de pedra para formar um lago, eram grandes atrações para os habitantes da pequenina Muzambinho. Carlos lembra que em 1960 o rio era bastante vivo, de água potável, e abrigava uma ilhota que acolhia as famílias para nadar e fazer churrasco. Outra atração citada pelo ex-servidor foi um pedalinho em forma de gaivota, o qual ficava em um pequeno lago que hoje serve para recepção e tratamento de água.
“Esse pedalinho fazia a alegria da criançada” - riu Carlos, mencionando também o fascínio que os animais desta escola causavam nos Muzambinhenses, que promoviam visitas constantes à escola para poder ver os bichos de perto.
Questionado sobre o que o motivou a vir estudar na Escola Agrícola, o servidor diz:
“Meu desejo nasceu quando estava no terceiro ano do ginásio. Eu via aqui na escola um futuro para seguir uma carreira profissional, gostava de agropecuária como gosto até hoje. E esse desejo foi nutrindo dentro do meu coração, mas eu não podia vir porque não era filho de servidor e também não era filho de produtor rural.”
Segundo Carlos, a possibilidade de uma transferência era permitida apenas a alunos de ginásio agrícola ou colégio agrícola.
Para que conseguisse realizar seu sonho, Carlos Esaú conta que, junto com mais quatro colegas, foram estudar em Santa Rita do Passa Quatro - SP, onde ficaram por seis meses.
Quando começou o ano agrícola, em agosto, ele procurou a Direção local para informar seu desejo de estudar no Colégio Agrícola de Muzambinho, e foi com bastante dificuldade que conseguiu sua transferência. Chegando aqui, foi recebido pelos senhores João Gonçalves e Adolfo, que de imediato avisaram que não haveria como ele estudar, já que vinha do Ginásio da cidade. Carlos, por sua vez, respondeu que vinha de um Colégio Agrícola para outro Colégio Agrícola, e dessa forma conquistou sua tão sonhada vaga.
“Agradeço a Deus até hoje por ter estudado e participado da vida estudantil desta escola”.
Mesmo sendo morador da cidade de Muzambinho, Carlos Esaú, foi interno desta instituição, e lembra como foi marcante essa experiência: “Isso é um marco na vida de todo agricolino. Todo aquele que passou pela escola agrotécnica, agora Instituto Federal, sabe que o internato faz muita diferença. A convivência, 24 horas por dia, de segunda a sexta e aos sábados pela manhã, com os companheiros e colegas, era algo marcante e que nos aproximava muito”.
Além da convivência com os colegas, a proximidade com os professores e técnicos administrativos era algo que os tornava uma grande família. “As lembranças de momentos que passamos aqui dentro, as brincadeiras que aconteciam, os fatos! Quantas coisas aconteciam aqui dentro do internato! E nós participamos dessa vida familiar de estudantes, que são amigos até hoje. E isso aconteceu entre 71 a 74”, conta o servidor.
Segundo o Sr. Carlos, havia um dia na semana em que eles podiam ir à cidade, que era na quinta à noite. Os menores de 18 anos iam por volta das 18 horas, enquanto os maiores iam às 19. Os menores voltavam às 21 horas e os maiores às 21h30min, de caminhão, conforme o ex-servidor.
Em relação às atividades e aprendizados de sua época de estudante, Carlos reafirma a questão da convivência e relacionamento interpessoal com pessoas desconhecidas. Naquela época, conforme relata o servidor, o trote, com restrição, era permitido. A primeira coisa que acontecia quando chegavam era perder o cabelo, e os meninos do primeiro ano eram chamados de “gabirus”.
Conforme diz, as atividades práticas eram constantes, e os estudantes aprendiam desde o cultivo de um canteiro de verduras, a criação de abelhas e até mesmo a lida com o gado.
A Fanfarra é outra lembrança carinhosa para Carlos, que se recorda vividamente dos momentos em que representou a escola em desfiles do 7 de setembro, das viagens para apresentações, e até mesmo do reconhecimento que receberam da família do Conde Ribeiro do Vale após uma apresentação na cidade de Guaxupé.
“Nós convivemos bastante com a fanfarra nos três anos que estive aqui como aluno, sob a direção do professor Ivan, nosso professor educação física e também responsável pela Fanfarra. Foi ele quem nos ensinou a responsabilidade de participarmos de uma representação da escola. Eu me lembro com saudade do nosso uniforme, todinho branco até tênis branco, calça branca e camiseta branca. E a parte de sopro trazia as iniciais da escola CAM - Colégio Agrícola de Muzambinho em vermelho e a parte de repercussão era de era azul”.
Carlos diz ainda que sente saudade da “Marcha Batida”. Segundo ele, toda quarta-feira, às 9 horas, os alunos se reuniam em frente ao Prédio Administrativo para que um aluno ou professor fizesse o hasteamento das Bandeiras; a fanfarra, por sua vez, era responsável pela execução da Marcha.
“Já estou com 70 anos e parece que me vejo ali com o professor Ivan, muito sério, quer dizer, muito disciplinado. Ele nos ensinou essa disciplina.”
Naquela época, houve um episódio em que o professor Ivan sugeriu a participação da Fanfarra, tanto no desfile de 7 de setembro como no aniversário da Escola, em novembro, acontecesse pela manhã, visto que nesses meses sempre chove à tarde. Mas a organização das festividades determinou que seria à tarde; Logo que o professor deu as instruções, começou a chover, o que causou a dispersão de toda a equipe. O instrutor, por sua vez, começou a apitar e disse que não havia dado ordem para sair, colocando os alunos para desfilar debaixo de chuva.
“Aquilo foi sério e engraçado” - Lembra Carlos - “Foi difícil, mas isso nos demonstrou, nos deixou a marca de disciplina, de compromisso que é tão importante”.
Essa disciplina se refletia na maneira como os alunos cuidavam da escola, conforme relatos do aposentado. Segundo ele, caso alguém fosse pego pisando na grama, e isso não fosse para apará-la, essa pessoa perdia uma saída na quinta-feira e ainda pagava cinco cruzeiros.
Carlos fala sobre o lema da escola, que era: “Fazer para aprender e aprender fazendo” e que essa maneira de aprender, fazia com que os alunos não tivessem dificuldade nas práticas agrícolas, eles sempre tinham ideia do que estavam fazendo.
Logo após se formar, Carlos se mudou para o interior de São Paulo, e após uma série de experiências, conquistou o sonho de uma vaga no Serviço Federal. Ele conta que foi graças aos conhecimentos obtidos nesta instituição que conseguiu um bom desempenho nas provas, possibilitando-lhe trabalhar com aquilo que amava.
Como servidor do Instituto Brasileiro do Café (IBC), o jovem Carlos passou por muitas experiências e endereços, e as oportunidades da carreira o trouxeram de volta à região Sul de Minas, região de Varginha; para ele, era uma grande felicidade poder trabalhar tão perto da família.
Quando finalmente conquistou sua vaga para Muzambinho, veio o susto: O servidor recebeu um telefonema solicitando que fosse ao IBC buscar seus pertences, pois o governo havia assinado a extinção daquela instituição. A partir daí, segundo Carlos, os servidores ficaram à disposição do governo por dois anos.
“Imagine você com família, ganhando somente o salário básico”, comenta Carlos.
Foi então que, após dois anos, o servidor solicitou sua transferência para a Escola Agrotécnica de Muzambinho, e este seria o início de uma jornada que se estenderia pelos próximos 30 anos.
A recepção de Carlos nesta instituição, quem diria, foi feita pelo próprio Professor Ivan, e sua missão teve início em 31 de julho de 1992.
O então servidor passou por diversos afazeres e experiências, indo da suinocultura à apicultura, sem deixar de mencionar os incontáveis eventos conduzidos por ele, no papel de mestre de cerimônias. No entanto, ele lembra que seu grande aprendizado veio ao assumir a Diretoria de Atendimento ao Educando, na gestão do Professor Ivan; nesta função, atuou até o ano de 1997.
Certa vez, há muitos anos, tiveram de lidar com um estudante que, por sua conduta, trouxe grandes transtornos à administração. Aconselhadores e paternalistas, dedicaram toda uma tarde ao jovem, explicando-lhe a importância de tomar decisões mais acertadas para o futuro; Ao cair da noite, os pais chegaram à instituição para levar o menino de volta à sua cidade natal, e por um bom tempo não se teve mais notícias dele por essas terras. Esse episódio jamais abandonou as memórias de Carlos, fazendo-o refletir sobre o papel do educador na vida dos jovens, bem como a fé em Deus para prosseguir com este nobre ofício.
“O educador trabalha com a emoção e também com fé em Deus para que os jovens aprendam o que é bom”.
O desfecho desta história, no entanto, chegou um ano mais tarde, quando aquele mesmo jovem enviou uma carta que levou a gestão às lágrimas. Ali, o estudante pedia perdão, além de agradecer pelo tratamento recebido e, por fim, revelar como havia se recuperado de seus erros e prosseguido sua vida da maneira mais nobre que encontrou: como educador, atuando na monitoria de uma casa de apoio.
“E se tornou um grande profissional” - Finalizou Carlos, orgulhoso e confiante de que um dos maiores legados desta instituição é, segundo ele, investir no ser humano.
Em 2008, veio a transformação da Escola Agrotécnica em Instituto Federal. O acordo reuniu as 3 escolas agrotécnicas de nossa região: Muzambinho, Machado e Inconfidentes. A equipe que compôs a Reitoria, na sua maioria era de Muzambinho, incluindo o novo reitor, Professor Rômulo.
Todos se mudaram então para Pouso Alegre, onde conviveram com servidores de Machado e também Inconfidentes, e ali se iniciava um capítulo importante para a história desta instituição e, claro, para a vida de Carlos.
“Todo começo é difícil” - Relembra Carlos - “Os servidores iam para Pouso Alegre toda segunda-feira e voltavam para suas respectivas cidades às sextas-feiras, mas assim surgiu uma grande amizade e interação entre os Campi”.
Na ocasião, Carlos foi convidado pelo professor Rômulo para assumir a chefia de Gabinete, e esta saga continuou até 2010.
De volta a Muzambinho, agora para atuar no Setor de Ingressos e Egressos, Carlos executou seu trabalho com maestria. Não apenas pelo fato de conhecer a escola como poucos, mas também pela alegria e prazer em receber as pessoas. A gentileza era uma de suas características marcantes, e estava presente desde a recepção dos estudantes até o cuidado na organização do encontro de egressos.
Uma das maiores realizações do ex-servidor foi justamente poder estar em contato e recepcionar outros egressos que, tal como ele, compartilham e nutrem um grande amor por esta instituição.
“Quando eles chegam, logo procuram sua Placa de Formandos, tiram fotos, conversam e se deliciam com suas recordações. Eles continuam fazendo parte da Instituição. Têm o maior orgulho e alegria de verem seus nomes gravados nas placas. A preparação é árdua, mas prazerosa! Não pode ser de qualquer jeito, tem que ser tudo bem preparado”.
Mas as tarefas não se resumiram apenas à recepção e acolhida aos egressos, pois a empregabilidade sempre foi uma grande preocupação desta instituição, além de uma forma de demonstrar o zelo para com os egressos. Dessa forma, Carlos recebia e transmitia as ofertas de emprego para os perfis adequados, dando publicidade e, claro, torcendo pelos melhores encaminhamentos para a vida de nossos alunos.
“Essa oferta de trabalho é muito importante para o egresso perceber que ele não está sozinho, que o ex-aluno, o aluno, é para a vida toda” - Salientou.
Para Carlos, o modo como funciona o Campus Muzambinho favorece a criação de laços afetivos:
“Em uma escola com alojamento, refeitório, regime de internato, onde se passa a maior parte do tempo, forma-se uma família, uma amizade muito grande”.
Quando questionado sobre o que significa o IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho para ele, Carlos suspirou, entregue a incontáveis memórias que guarda como tesouros. Ele fez questão de agradecer primeiramente a Deus, atribuindo a Ele as oportunidades de vivenciar tantas histórias e, claro, ajudar a escrever tantas outras. Lembrou também os colegas, servidores de todas as classes, bem como todos aqueles que ajudaram a construir esta instituição, instituindo aqui um clima de respeito, seriedade, mas também de afeto e pertencimento.
Mas, acima de tudo, Carlos relembrou o sorriso dos estudantes que, por tantos anos, toparam com ele pelos corredores de nossa instituição, sempre determinados, respeitosos e confiantes no que a instituição poderia lhes oferecer. E foi na condição de ex-aluno que o senhor Carlos Esaú deixou sua mensagem mais emocionada:
“Esteja você onde estiver, ainda que seja o momento mais difícil da tua vida, lembre-se de Deus! E se você tem ou tiver oportunidade, venha para nossa escola! Essa experiência pode falar muito alto na sua vida, e você vai aprender não apenas disciplinas e metodologias para sua vida profissional, mas terá muitos bons exemplos. Hoje, com 70 anos, eu ainda relembro meus tempos de agricolino! Quanto a você, egresso, não deixe de vir para o encontro de 70 anos de nossa escola.
Parabéns e muito obrigado, Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Muzambinho!”
Texto e Fotos: ASCOM do Campus Muzambinho.
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