Jorge Wanderley Silva, um egresso que se faz presente
Entre os personagens que integram a história dos 70 anos do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho, está o egresso da primeira turma, conhecido até os dias atuais pelos corredores da Escola, Jorge Wanderley Silva. Jorge esteve no Campus para contribuir com seu relato sobre a Instituição, mas é corriqueiro encontrar com ele passeando pelo Campus.
Ele chegou ao Campus Muzambinho com uma pasta repleta de recordações, entre elas, a sua ficha de inscrição para o vestibular e a sua aprovação para estudar na Escola Agrotécnica de Muzambinho. Com média 7, sendo avaliado em Português e Matemática, de maneira escrita e oral, Jorge foi aprovado em 20º lugar para cursar a Iniciação Agrícola. Ele iniciou seus estudos, na Escola Agrotécnica, aos 14 anos e ficou por 6 anos na Instituição. “Não sabíamos nada, aqui aprendemos a ter ética, profissionalismo, amizade, amor ao próximo e respeito ao próximo”.
No dia da inauguração da Escola Agrotécnica de Muzambinho, Jorge esteve presente. Ela conta que inicialmente era para ter ocorrido em 14 de novembro, como mostra o telegrama enviado por ele ao seu pai, mas a inauguração foi adiada para o dia 22 de novembro de 1953. “Nesses 70 anos que passaram, eu não vi uma festa igual a que teve aqui na Escola Agrotécnica”. De acordo com Jorge, “a inauguração foi uma grande festa, não só para Muzambinho, mas para o Sul de Minas. Foi servido para o pessoal 11 caminhões de bebidas doados pela Antártica, o Doutor Lycurgo Leite Filho era o advogado da empresa e ela doou para Muzambinho essa quantidade de bebida. Os fazendeiros doaram mais de 25 vacas para fazer o churrasco. Foi uma maravilha!”.
A inauguração da Escola Agrotécnica de Muzambinho contou com a presença do Presidente da República, Getúlio Vargas, do Governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, do Ministro da Agricultura, João Cleófas, do Ministro da Justiça, Tancredo Neves e do Deputado Federal, Lycurgo Leite Filho. Jorge contou que a inauguração aconteceu no último arco da esquerda da fachada do Prédio H e que o presidente ficou hospedado na casa que, atualmente, abriga o Laboratório de Práticas Pedagógicas do Curso Superior de Licenciatura em Pedagogia EaD, a Brinquedoteca.
Uma história bastante conhecida pelos estudantes do Campus Muzambinho é a xícara sem alça que o presidente pegou para tomar café. Jorge participou ativamente do momento. Ele relatou que uma mesa havia sido preparada para que o presidente tomasse o café, mas Getúlio Vargas foi sentar-se com os estudantes e justamente no lugar em que se assentou estava a xícara sem a alça. O egresso conta que rapidamente foram trocar a louça e a xícara sem alça foi dada a ele, Jorge, pelo presidente Getúlio Vargas. “Eu guardo a xícara até hoje.” O egresso conta que o presidente demonstrou uma atenção especial aos estudantes. Do refeitório, Getúlio Vargas foi visitar os alunos doentes que estavam na enfermaria e conversou com todos. “Ele era muito popular e gostava muito das crianças”.
O egresso, durante a caminhada pelo Campus, lembrava de fatos que marcaram sua trajetória na Instituição. O centro do Prédio H era o palco para as danças, os estudantes dançavam juntos e Jorge relata que era bom na arte de dançar. Ele falou de outra lembrança também, todas as sextas-feiras havia cinema para os jovens estudantes, mas a atração também era aberta à comunidade externa da instituição. Os estudantes levavam as cadeiras do refeitório para o salão e, ali, reuniam-se todos para acompanhar o filme da semana.
Outra recordação do egresso é sobre a Usina Hidrelétrica da Instituição. Antes de sua implantação, a Escola Agrotécnica contava com um gerador que funcionava até por volta das 22 horas e, após esse horário, não tinha luz. Em agosto de 1954, a Usina foi inaugurada, para sua construção foi necessário adquirir o maquinário, o mesmo teve fabricação na Alemanha. “Depois de construída, a usina teve um problema, a comporta da água da represa atingia a estrada de ferro e não podia acontecer isso, pois um acidente poderia acontecer. Como fazer? A usina não podia funcionar, porque a água atingia a estrada de ferro. Trouxeram um engenheiro para resolver o problema. Ele fez um aterro na cabeceira da represa, mas tinha outra água que vinha de cima. O que fazer com ela? Ele manilhou a água por baixo da represa e, ela passou a sair na cachoeira da Escola. Até hoje a manilha está na usina”.
“Eu tenho um carinho especial por essa Escola. Eu digo que aqui foi o nosso segundo lar! Os professores e funcionários foram nossos pais, quantos professores bons nos orientavam, nos davam carinho e conselhos. Isso pra nós foi muito importante. Tínhamos uma professora que chamava-se Dona Olga Cerávolo Bueno de Rezende, as aulas dela eram uma maravilha”. Jorge comentou inclusive que, alguns alunos moravam muito longe, não podiam pagar a viagem para casa e que durante as férias ficavam na Escola. “A Dona Olga levava esses alunos para se alimentarem na casa dela. Ela era uma verdadeira mãe e foi uma grande mãe para todos nós”.
A rotina dos estudantes da primeira turma era a seguinte: acordavam cedo, tomavam café e iam para as aulas práticas, às vezes na horta, na oficina, no estábulo ou no aviário. As aulas práticas duravam até por volta das 10 horas, depois os jovens tomavam banho, almoçavam e iam para as aulas que duravam até o fim do dia. Durante a noite, os estudantes tinham o horário de estudo, jantar e por volta das 21 horas, eles tinham um lanche da noite. “Nos alimentávamos muito bem”. Os estudantes também tinham acesso à enfermaria, médico, dentista, alfaiate, barbeiro, lavanderia, tudo dentro da Escola. “Era uma vida muito boa. Era igual a música do Roberto Carlos: ‘nós éramos felizes e não sabíamos’”. Os estudantes participavam de aulas de Educação Física, tinham time de futebol, vôlei e basquete, coral, conjunto musical, fanfarra e cantavam o Hino da Escola.
“O aprendizado mais importante que levei daqui para a minha vida prática foi a honestidade, a ética, a pontualidade, a amizade, a confiança. Trabalhei 60 anos e, nesses 60 anos, nunca atrasei um minuto e nunca perdi um dia de serviço ou recebi um minuto de hora extra. A única coisa que arrependo é ter me aposentado, eu devia estar trabalhando até hoje” - declara Jorge sobre o aprendizado que levou daqui para a sua vida profissional. Jorge atuou no IBC - Instituto Brasileiro do Café por 35 anos e ajudou no desenvolvimento da região, após aposentar-se, ele seguiu trabalhando na Exportadora de Café de Guaxupé por mais 25 anos. Ele também é o inventor do gancho ecológico.
“O principal é olhar o homem do campo, com amor, carinho e respeito. O trabalho mais importante que fiz ao longo desses 60 anos foi implantar um curso de parteira, formar 58 parteiras e elas salvaram muitas vidas. Eu tive uma honra muito grande, as primeiras crianças que nasceram receberam o nome de Jorge”. Na época, o egresso morava em Nova Resende e na região havia muitos problemas nos partos, com mortes das crianças e das mães. Ele viu que essa era uma carência do homem do campo e precisa buscar recursos para ajudá-lo.
O egresso que ajudou a transformar a região, por intermédio de seus aprendizados na Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, abordou o significado dos 70 anos do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho. “Essa escola veio modificar a nossa região. A nossa região em 1953 era muito atrasada, nós não tínhamos estrada, telefone, nada de comunicação. Essa escola veio abrir o leque de desenvolvimento para a nossa região. A nossa agricultura se desenvolveu muito. Em qualquer fazenda que você vai tem as melhores técnicas. Isso é daqui da Escola. Os alunos vieram aqui, aprenderam e levaram para as propriedades rurais. Essa escola é muito importante e isso nós devemos a um grande homem, que foi o presidente Eurico Gaspar Dutra que criou as Escolas Agrotécnicas.” Jorge comenta que o Deputado Federal Dr. Lycurgo Leite Filho iniciou um exaustivo trabalho para conseguir a instalação de uma Escola Agrícola em Muzambinho e destacou também o trabalho de Messias Gomes de Mello, Prefeito de Muzambinho da época que muito trabalhou “para que o sonho de Muzambinho se realizasse”.
O egresso que contou que sempre sonha com a Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho encerrou sua entrevista com uma mensagem para os atuais estudantes: “Aos novos alunos, aqueles que estão começando aqui na Escola ou estão terminando os seus cursos. Não pensem em sair daqui para trabalhar só para ganhar dinheiro, pensem em levar mensagens positivas. Quando se dedicarem ao trabalho do campo, não vá só pensando somente naquilo que foi determinado, pense na família, olhe o que está faltando naquela família para que você possa completar.”
Texto e fotos: ASCOM - Campus Muzambinho
Documentos cedidos pelo egresso Jorge Wanderley Silva
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