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Inteligência emocional se aprende na escola?

Publicado: Quinta, 12 de Agosto de 2021, 10h13 | Última atualização em Quinta, 12 de Agosto de 2021, 10h18

WhatsApp Image 2021 08 11 at 15.24.02Treinamentos, dietas, exercícios, táticas, nada disso é suficiente se o equilíbrio psicológico de um atleta não estiver em dia. Esse fato foi confirmado pela 9ª melhor ginasta da história, Simone Biles, que desistiu de várias provas das Olimpíadas de Tóquio diante da necessidade de colocar a sua saúde mental como prioridade.

Mas e quando falamos de competições escolares, apresentações artísticas e demais atividades vividas por estudantes diariamente?

O professor do IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho, Rafael Castro Kocian, explicou que essa questão psicológica também deve ser trabalhada nas escolas já que pode afetar o rendimento dos estudos, do trabalho e da vida cotidiana, especialmente em tempos tão difíceis como os da pandemia.

WhatsApp Image 2021 08 11 at 09.58.27Psicologia do esporte na escola

Quando tratamos de psicologia do esporte, muitos acreditam que o tema deva ser abordado apenas com atletas de alto rendimento. No entanto, a necessidade de atenção a saúde mental relacionada aos esportes é um tema que deve ser abordado também nas escolas, com estudantes de todas as idades.

Segundo o professor das disciplinas de Psicologia do Desenvolvimento e de Psicologia da Educação Física, "dentro da Educação Física escolar é preciso discutir questões como a motivação (para participar da aula), o medo (de aprender uma modalidade mais “radical”), a vergonha (de praticar dança em grupo ou isoladamente). Na academia é preciso refletir sobre o corpo que temos e queremos, a obsessão por um corpo perfeito. São pequenos exemplos que podem ser estendidos a todas as áreas. Não podemos esquecer que o próprio profissional de Educação Física necessita de acompanhamento sobre sua atuação. O sentir, o ouvir e o dialogar são fundamentais para desempenhar as ações de forma mais saudável".

WhatsApp Image 2021 08 11 at 11.33.52O professor Ricardo Avelino, responsável pela disciplina de Metodologia do Ensino da Educação Física no nosso curso de Licenciatura em Pedagogia, destacou ainda que as premissas básicas da educação física escolar estão relacionadas com a interação social, com o desenvolvimento neuromotor e com a potencialização dos processos cognitivos de aprendizado.

Dessa forma, a prática esportiva está diretamente relacionada às questõres psicológicas uma vez que "ajuda no desenvolvimento, ampliação e melhoria no desenvolvimento neuromotor; potencializa os aspectos de desenvolvimento cognitivo de toda ordem, fisico/motor, emocional e intelectual; trabalha e aprimora o desenvolvimento de aspectos sociais (interação, socialização e inclusão); estabelece vínculos entre os participantes e com o professor (fator que favorece a observação de casos de distúrbios (físicos, mentais e emocionais) possibilitando orientações e encaminhamentos; estabelece valores sociais e educacionais; e desenvolve de forma mais específica, processos de performance esportiva", citou Ricardo.

Aspectos do acompanhamento psicológico

Tanto no ambiente escolar, quanto entre atletas profissionais, a assistência psicológica deve ser feita por profissionais e cada caso deve seguir protocolos específicos. Entretanto o professor Rafael Kocian explica que "situações diretamente ligadas ao esporte, podem ser trabalhadas no dia a dia. Por exemplo, um atleta que se sente desconfortável com a presença de torcedores, precisa trabalhar isso, precisa conversar sobre isso, precisa “treinar” isso".

De acordo com o professor, o treino deve ir além de estratégias de jogo e trabalhar também o emocional do jogador para que ele aprenda a lidar com diferentes situações de um jogo. "Na prática significa que o treino também deve ter esses componentes. Muitas vezes se treina uma situação de jogo pensando que o adversário é habilidoso, que bloqueia bem, que explora jogadas de longa distância, etc. Mas poucas vezes treinamos competências emocionais, de como controlar a ansiedade, o medo, exercer liderança, etc. isso é fundamental para se formar um atleta completo. Quantas vezes treinamos situação de jogo que envolve erro de arbitragem? Será que nossos atletas estão preparados para reagir a isso?".

WhatsApp Image 2021 08 11 at 16.11.28O psicólogo do Campus Muzambinho, Túlio Trevisan, cita que assim como a saúde física, a saúde mental precisa de esforços de nossa parte para ser conquistada e mantida. "Aqui vale a regra de ouro: prevenir é melhor do que remediar. E a prevenção em saúde mental pode e deve ser feita de forma abrangente, em instituições de ensino, no mundo do trabalho, por meio de políticas públicas que atinjam toda a população e busquem garantir condições de vida dignas para todos. Além disso, é importante que nossa sociedade passe a cultivar uma cultura de autocuidado, que valorize o autoconhecimento, a inteligência emocional e estimule a adoção de hábitos saudáveis em todas as esferas de nossa vida".

Túlio ainda destacou que o episódio com Simone Biles foi de extrema relevância para difundir a importância do cuidado em saúde mental. "E este é um tema que precisa alcançar a todos nós. Para termos uma dimensão do problema, o Brasil detém o preocupante título de país mais ansioso do mundo, segundo relatório recente da OMS. Com a pandemia, essa incidência tende a aumentar, assim como os casos de depressão. É importante ressaltar que alguns transtornos mentais podem acometer qualquer pessoa, em qualquer época da vida. Por isso precisamos ter consciência de que todos estão sujeitos a passar por um período de fragilidade e precisar de ajuda profissional".

1024px Simone Biles at the 2016 Olympics all around gold medal podium 28262782114 croppedCaso Simone Biles e a psicologia do esporte para atletas

Ao tratarmos de atletas de alto rendimento palavras como pressão, resultados e eficiência são frequentes. Afinal, a diferença entre o primeiro e o segundo lugar costuma ser mínima. Por isso, o psicológico do atleta pode ser o diferencial em uma vitória.

E quando a competição é nas Olimpíadas essa tensão aumenta ainda mais. Simone Biles, principal ginasta dos Estados Unidos, saiu em meio à competição por equipes (ficou com a prata) e nem chegou a competir em salto, solo, barras assimétricas e no individual geral, a fim de garantir sua estabilidade psicológica.

Ela declarou que "a saúde mental é fator mais importante nos esportes nesse momento. Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos".

O professor Rafael Kocian defendeu a decisão da atleta, ressaltando que trata-se de um ser humano passível de fraquezas. "Simone Biles deixou claro para o mundo todo que ela é um ser humano como qualquer outro: chora, ri, tem virtudes e fraquezas. Por muito tempo as pessoas enxergavam os atletas como máquinas, como carros de Fórmula 1, bicicletas de ciclismo ou sapatilhas de um corredor, programados para render o máximo possível, esquecendo que os estados emocionais destes seres humanos também é determinante.  E, se as questões emocionais não estiverem ajustadas, o resultado pode estar longe do programado. Ainda temos muitas pessoas que pensam que atletas são máquinas". 

Depois do caso da atleta Simone Biles nas olimpíadas, vários atletas se manifestaram sobre a importância do equilíbrio emocional e sobre a grande pressão que sofrem no cotidiano da vida de treinos e competições. O medalhista olímpico na modalidade skate, Kelvin Hoefler, admitiu que pensou em desistir da competição devido a grande pressão. O nadador e medalhista de ouro em Pequim, César Cielo, também falou sobre suas inseguranças durante a prova em 2008. 

Segundo o professor Rafael Kocian, "o controle mental é tão importante quanto outras habilidades e competências. Um atleta precisa de preparo físico, preparo técnico da sua modalidade, preparo tático diante dos desafios que vão surgindo, conhecimento das regras da modalidade, etc. e preparo emocional. Em alto rendimento qualquer desajuste nessas habilidades e competências pode ser determinante para conquista do ouro ou mesmo perder uma medalha".

TEXTO: ASCOM

IMAGENS: ASCOM - Campus Muzambinho

Acervo pessoal do professores

e Agência Brasil Fotografias

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